ATRIUM ANIMAE

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INTERVIEW: ATRIUM ANIMAE "FURIA DIVINA"
LOUD! MAGAZINE [NOVEMBER 2011]
2011 | NOVEMBER

loud! #128 november 2011

atrium animae | loud!

 

Atrium Animae: "Visioni Sacre"
Interview by Fernando Reis

 

atrium animae | loud!

 

Numa época em que a “ressaca” de um projecto como Dead Can Dance atinge proporções assustadoras, os fãs do duo australiano têm mais uma alternativa para aplacar o vício.

Chama-se Atrium Animae, é também um duo – mas italiano – e a proposta de estreia, «Dies Irae», é a melhor coisa que aconteceu à cena sinfónica e neo-clássica em muito tempo.

 

Fortemente influenciados por música clássica e espiritual, a vocalista Alessia Cicala e o multi-instrumentista Massimiliano Picconi propõem uma viagem espiritual, cheia de atmosferas obscuras, ao mundo da submissão e desespero. “O projecto é essencialmente a soma das nossas influências mútuas e conhecimento musical”, explica Alessia. “Mas também da nossa vontade de expressar um sentimento negro e apocalíptico necessário à temática do «Dies Irae»: sentimento de perda, remorso, desespero, mas também suplício, raiva contra a iniquidade e actos maldosos, procura de vingança”. Sentimentos fortes que produzem um ambiente forte de um álbum que surpreende pela coesão, logo na estreia.

 

Uma coesão que, segundo a cantora, provém de um equilíbrio. “Existia uma empatia incrível entre nós, mas as nossas visões diferentes do projecto influenciaram profundamente o processo criativo e as partes orquestrais e vocais. Para além disso, pretendíamos ter controlo total de todo o processo criativo, mas acreditamos que a nossa dualidade cria a combinação e química certas. Foi por isso que chegámos ao resultado que pretendíamos depois de três anos de trabalho duro e de várias versões de cada música. Por isso, podemos considerar o «Dies Irae» não exactamente uma soma, mas mais uma intercessão das nossas influências”.

 

Como o próprio título indica, o «Dies Irae» gira à volta da natureza da conturbada relação entre Deus e o homem. “Mergulhamos em particular no drama cristão medieval chamado “torpes”, que se distingue por alternar recitação e canto coral, cuja execução é levada a cabo por clérigos”, começa Massimiliano. “Mas o nosso uso intensivo de música polifónica contra-pontual típica difere da técnica habitual da Idade Média, e é caracterizada pela música monofónica – apenas uma voz – e homofónica – com uma voz melódica dominante, acompanhada muitas vezes por coro. A interpretação da Alessia reflecte o drama e o sofrimento expressos nos textos e ligados a eventos que causaram grande sofrimento na vida dela. Pode ser considerado um exorcismo, um processo de purificação”.

 

Com uma receita tão solene, profunda e enriquecida pela polifonia, uma tradição profundamente enraizada em Itália, era inevitável que perguntássemos aos nossos interlocutores se essas tradições influenciaram de algum modo a receita musical dos Atrium Animae. Massimilano confirma, mas não está certo que as raízes musicais do duo tenham uma influência tão forte no processo criativo.

 

Alessia tem uma posição ligeiramente diferente: “Fiz parte de um coro polifónico e estudei o estilo no conservatório. Cantar reportório polifónico durante tantos anos ajudou-me definitivamente na criação de partes polifónicas complexas. Para além disso, as partes orquestrais dramáticas do Massimiliano têm também uma enorme influência no meu processo criativo”.

 

 

 

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